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Artimanhas do Tempo.
O tempo veio de longe, dizem: veio antes do verbo, antes do vento, Antes do primeiro relógio dar corda no mundo. Veio nu, sem pressa, mas aos poucos se vestiu de calendário de horas E de culpas. O tempo é um artista astuto: esculpe rugas com a paciência De um Michelangelo invisível. Mistura os cabelos brancos com a delicadeza De um pintor renascentista. Cansa os olhos como quem rabisca um poema, E molda as mãos como barro, guardando as riquezas do mundo. O tempo é também um ladrão elegante: rouba infâncias distraídas, Esconde juventudes em gavetas e, quando nos damos conta, Já nos entregou um corpo que não reconhecemos no espelho. Mas não pense que ele só leva, traz também! Traz sabedoria para aquilo que antes era só impulso. Dá uma certa paz Onde antes só cabia urgência e desassossego. Traz respostas, Ainda que, às vezes, só nos mostre que as perguntas nunca tiveram dono. E para onde vai o tempo quando foge de nós? Talvez se esconda Nos retratos amarelados, esquecidos no fundo das gavetas, talvez Descanse na memória de alguém que nos amou. Quiçá não vai a lugar algum e continue aqui silencioso, rindo Das nossas perguntas e ponderações, afinal, nunca foi ele que passou... Fomos nós.
Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 29/01/2025
Alterado em 30/01/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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